Era somente um dia a mais, como outro qualquer. Lá estava ela distraída, com pensamento em coisas banais. Talvez naquele dia ela não tenha percebido o que estava acontecendo, mas o que houve naquele momento não voltaria mais no tempo, e nem palavras para que as descreva.
Ficou extasiada ao conhecê-lo. Ficou emudecida com tal habilidade que ele tinha com as palavras, apesar de sua timidez impedir que ele se soltasse mais. Mas bastou um olhar para que ela se perdesse nele. E assim foram, embolados, seduzidos no ritmo de suas conversas. Ela conseguia ser mais aberta com seus sentimentos, ele guardava para si. Ela falava, ele corava. Ele tentava se abrir loucamente, balbuciar alguma coisa, mas era difícil para ele reconhecer que ali estaria sempre seguro. Ele tinha medo. Medo do que ele talvez não poderia suportar, ou descobrir que era exatamente aquilo que sua vida almejada suportar no momento.
Somente aquilo. Nada mais. Algo simples, porém peculiar em sua intensidade.Ela acabou, enfim, tropeçando em suas próprias palavras. Um tropeço proposital, para perder um pouco daquela nostalgia, das regras, das preliminares, perder o equilíbrio para que pudesse ser amparada pelas mãos dele.
O entusiasmo foi suficiente para que a partir dali não houvesse outra coisa a ocupar-lhes os pensamentos ou outra vontade que não a de ver o outro. Já não haveria mais sossego nas noites solitárias, ele lhe roubara o sono, ela lhe roubara a melancolia.
E assim começaram uma vida nova, mesmo que tudo não saísse dali, mesmo sem um pequeno toque, mas ela sabia, ele sabia, que era o suficiente para viverem aquela paixão, na medida certa, nem muito, nem pouco, apenas uma paixão que vem como uma brisa.
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